Quer começar o ano com a casa renovada? Então, é hora de desapegar: veja um passo a passo para fazer um desapego real e só manter o necessário.
*Por Priscila Wolff
Quando olhamos para uma criança, é fácil perceber quando ela está crescendo. Assim, sabemos que as adaptações precisam acontecer: os dentinhos vão caindo, dando lugar a um novo sorriso! As roupas vão ficando curtas, e precisam ser substituídas.
Quando viramos adultos, esse processo é muito mais discreto. Não temos mais uma canela a mostra, entregando que a calça ficou curta! Então, precisamos olhar para dentro, e lembrar que estamos em constante crescimento. Por sermos crescidos, temos o livre arbítrio para decidir e efetuar as adequações necessárias para nos tornarmos quem desejamos ser, e a nossa casa, as nossas coisas, dizem muito sobre nós.
Que tal aproveitar esse período reflexivo de fim de ano para fazer um desapego real?
Desapego de dentro para fora
Não estamos falando em tirar as roupas furadas do armário, mas realizar um processo de revisão total em sua casa! Todos nós temos uma conexão com as nossas coisas. E é esse significado oculto, essa ligação, que as vezes torna tão difícil o desapego – deixarmos as coisas que não usamos mais seguirem outro caminho!
O desapego não é um olhar externo para o nosso lar, e o que temos nele. É muito mais um exercício de autoconhecimento, de entendermos quem somos e o que queremos para nós. Pensar em quem você deseja ser no futuro, e o que de fato vale a pena levar na sua bagagem.
Introdução feita, vamos falar sobre a técnica?
Para facilitar o desenvolvimento do processo, trouxemos um passo a passo da execução:
Passo 1: Crie um evento do desapego
Marie Kondo é uma especialista em organização que ficou famosa com seu livro “A Mágica da Arrumação”. Em seu livro, ela apresenta a seguinte frase: “Arrume um pouco a cada dia, e acabará fazendo isso para sempre.” E podemos confirmar que é verdade!
A verdade é que o ”trabalho de formiguinha” pode ser cansativo para muitos, gerando uma autocobrança exaustiva. Mas é totalmente possível ver isso com outros olhos: defina uma data! Prepare um lanche especial para esse dia, comprometa-se com alguém (chamar uma pessoa que não te deixe desistir pode ser uma boa ideia!), e programe-se para ir do início ao fim.
Reserve também um período de tempo adequado, para que não queira fazer tudo com
pressa! Pense em reservar um dia inteirinho para pensar em você e no lugar mais especial para você
no mundo: seu lar! Tenho certeza que será recompensador.
Passo 2: Prepare o material adequado
Essa é uma atividade que exige ferramentas. Antes de começar, separe três grandes cestos, baldes ou sacolas, que você irá identificar com uma etiqueta ou placa visível com as categorias:
- Manter
- Descarte
- Fará o bem ao outro alguém
Se você é do tipo que costuma guardar peças que precisam de algum conserto, e nunca reserva tempo para isso, sugerimos uma quarta categoria: Conserto. Parece bobagem, porque há quem pense “Eu vou saber onde cada pilha está!”. Mas minha insistência tem base científica:
Você está prestes a entrar em uma atividade que irá demandar várias decisões de seu cérebro. Você irá decidir o futuro de seus pertences, peça a peça. E como seu cérebro tem uma função natural de preservação de energia, podem surgir desculpas bastante convincentes para te fazer desistir da tarefa.
Mas, agora você já sabe desse risco e fará tudo certinho para não cair nessa armadilha, certo? O simples fato de você não precisar pensar em onde alocar cada peça (bastar bater o olho na placa!) tornará o processo muito mais leve!
Passo 3: Trabalhe por categoria
Chegou a hora de organizar seu processo de desapego! Você deverá executar o processo por categorias, e só passar para a próxima assim que a primeira estiver finalizada. Essa é a ordem sugerida:
a. Roupas
b. Itens de cozinha
c. Livros
d. Papéis
e. Itens Diversos
f. Itens de valor sentimental
Essa ordem está inspirada (com pequenas alterações) no método da Marie Kondo, e segue
uma ordem de facilidade. É muito mais fácil você entender se uma roupa fica bem ou não em você, do que que decidir se joga fora aquele seu brinquedo guardado há tantos anos (porque um dia vai querer mostrar aos filhos, ou algo assim!).
Dentro de cada categoria, você deve criar ainda subdivisões para o desapego.
Por exemplo: Ao avaliar suas roupas, antes de iniciar, junte: camisetas com camisetas, calças com calças, etc. Esse ponto é o pulo do gato porque é um passo que corrige o erro que a maioria das pessoas começa ao querer fazer um desapego.
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É comum que as pessoas queiram fazer o processo dividindo por espaço físico, até para evitar criar uma bagunça generalizada na casa. Ou seja: começam por uma prateleira, depois vão para outra, e assim por diante. Mas qual é o problema nesse método? Você perde a visão dos excessos e repetições.
Em uma prateleira você encontra uma camisa branca e pensa “Hum, camisa branca é básico. Vou manter!”. Depois de avaliar outros tantos objetos, lá na 15ª prateleira, você encontra outra camisa branca e, adivinhe o que pensa? “Hum, camisa branca é básico, vou manter!”.
Você nem vai lembrar que já viu outra quase igual antes! Quando você separa os itens por família, consegue avaliar as peças com mais critérios, avaliando o que realmente vale a pena manter.
Passo 4: Escolha o que fica, não o que sai
Aqui vou pedir para você refletir sobre todas as vezes que já fez, ou tentou fazer um desapego. Qual era seu pensamento ao avaliar as peças? Qual sentimento estava te guiando?
Vamos imaginar a seguinte cena:
Você está avaliando suas calças e encontra uma que comprou há mais de um ano, mas ainda está com etiqueta. Você pensaria:
a) Nossa, essa eu nem usei ainda, vou deixar mais aqui na frente para ver se lembro de usar;
b) Não usei em 1 ano, não vou usar, vou enviar para a doação.
Se você é como a maioria das pessoas, possivelmente manteria a calça, afinal, ainda está nova. E é aqui que te convido para uma verdadeira transformação! Nesse processo, te convido a olhar para você, e não para o objeto.
Uma calça que teve 365 oportunidades de ser utilizada e diariamente foi deixada de lado possivelmente transmite algo que não tem a ver com você. Ou não serviu tão bem, a cor na verdade não lhe agrada muito, algum motivo existe!
Voltando ao método da Marie Kondo, a sugestão dela é que você converse com cada item que está avaliando. Você não entendeu errado! Ela sugere que você pegue a peça e fale com ela! Sinta a peça, entenda o que ela realmente significa para você.
A sugestão de Kondo é que você olhe a peça e avalie se ela te traz alegria. Se sim, ela fica.
Se não, você olha para ela, agradece (verbalmente) o tempo que passaram juntos, e deixa
que ela siga seu caminho para ajudar outra pessoa!
Você há de concordar que manter somente o que te traz alegria é uma boa lógica, afinal, como seria entrar na sua casa e só enxergar coisas que te fazem feliz? É sem dúvida uma boa forma de cuidar do seu melhor lugar do mundo.
Se você tiver feito tudo direitinho, ao final desse processo terá deixado seu lar mais leve e ajudado várias outras pessoas, e isso por si só, já seria ótimo! Mas um processo bem feito de desapego é muito mais do que isso. Ao final você terá repensado tudo o que te representa e que faz parte de sua vida. Esperamos genuinamente que você decida seguir esse processo e que ele te ajude a se preparar para ser tudo o que nasceu para ser no próximo ano!
* Priscila Wolff é Personal Organizer e gestora da Just Perfect Organizing.